quarta-feira, 11 de abril de 2012

Educação da Fé

ORMAÇÃO CONTINUADA PARA CATEQUISTAS QUE ATUAM NA CATEQUESE INFANTIL.

O QUE TEMOS EM VISTA QUANDO FALAMOS EM INICIAÇÃO A VIDA CRISTÃ.
1.1-JESUS CRISTO, MISTÉRIO DE DEUS.
“A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna” - Jo 6,68.Como Pedro confessemos nossa perplexidade e a nossa confiança nessa resposta de Deus. Consciente disso, a Igreja proclama “que a chave, o centro e o fim de toda história humana se encontra em seu Senhor e Mestre”.
Nos evangelhos Jesus está a serviço de Reino de Deus que, para ele, é a realidade última. Ele é o mediador absoluto e definitivo do Reino. E para compreender o que o Novo Testamento quer dizer, anunciar e propor ao falar do Reino de Deus é preciso mergulhar no Jesus histórico e em sua prática. Por sua vida, suas palavras e ações, por sua doação total na cruz e gloriosa ressurreição ele revela ao mundo o amor e o projeto de salvação do Pai que nos ama a todos. Nisso se baseia a Igreja, corpo de Cristo, portadora de sua mensagem, lugar de participação na vida nova que Jesus nos veio trazer.Aí se encontra o centro do anúncio , da proposta transformadora do Evangelho.
1.2-O MISTÉRIO ESTÁ NO CENTRO DA FÉ.
Jesus ao falar do Reino, chama-o de mistério: “A vós é confiado o mistério do Reino de Deus” – Mc4,11;cf. Mt13,11; cf.Lc8,10.Ser cristão é participar desse mistério e se comprometer com ele. Requer uma mudança de vida, é fruto de experiência, não apenas de conhecimento. O conceito de mistério aparece pouco no Antigo Testamento, mas é muito usado por Paulo. Era algo bem presente nas religiões pagãs. No Cristianismo adquire um sentido totalmente novo: é a presença do Reino de Deus presente com Jesus.
O termo mystérion é fundamental no Novo Testamento. Foi usado para manifestar o desígnio divino de salvação que para Paulo se concentra na pessoa de Jesus, sua vida, morte e ressurreição. Paulo contrapõe a “sabedoria misteriosa” de Deus -1Cor2,7 e diz que sua missão é fazer conhecer a gloriosa riqueza deste mistério em meio aos gentios, ou seja, “o Cristo no meio de vós, esperança da glória” e também iniciar os cristãos no pleno entendimento e no conhecimento do mistério de Deus, que é Cristo, no qual estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento.
1.3-INICIAÇÃO:mergulho pessoal do mistério
No nosso imaginário o mistério carrega em si algo de fascinante, sublime, surpreendente, deslumbrante, incessível ao simples mortal; enfim, algo de divino, de fantástico e espantoso. O mistério é um grande segredo que manifesta somente aos iniciados. Diferentemente de outros conhecimentos ou práticas, não se tem acesso ao mistério através de um ensino teórico, ou com aquisição de certas habilidades. Para ter acesso aos divinos mistérios a pessoa precisa, de uma maneira ou de outra, ser iniciada a essas realidades maravilhosas através de experiências que marcam profundamente.
Os discípulos de Jesus, no anúncio do Evangelho, lançaram não dessa realidade tão humana e arraigada nas culturas, de tal modo que o cristianismo foi até confundido com uma das tantas religiões iniciáticas que pululavam:(grande número )no Oriente Médio. Mas era algo muito mais profundo: para participar do mistério de Cristo é preciso passar por uma experiência impactante de transformação pessoal e deixar-se envolver pela ação do Espírito.
A missão visa proclamar e fazer experimentar o mistério, não escondê-lo. Mas ao mesmo tempo não podemos banalizar o acesso ao sagrado, como se estivéssemos distribuindo algo sem conseqüências mais serias. O querigma (primeiro anúncio) pregação missionária – é para todos, mas os mistérios –sacramentos – são para aqueles que foram iniciados na fé.
1.4-CATECUMENATO: Um caminho antigo e eficiente.
Desde o século II, a iniciação cristã se fazia através do catecumenato. Foi uma feliz criação da Igreja, num tempo em que ela não podia contar com o apoio de uma cultura cristã na sociedade e ainda havia muito clima de segredo na pratica cristã.O Vocabulário da Iniciação Cristã foi elaborado pelos Santos Padres: refere-se as etapas consideradas indispensáveis para mergulhar ( batismo significa mergulho ) no mistério de Cristo e começar a fazer parte da comunidade eclesial em espírito e verdade. O valor desse mistério de Cristo e da Igreja era experimentado e depois explicado numa vivencia marcada pelo rito através de uma catequese chamada “mistagógica” (que inicia ao mistério).
Essa catequese fazia a pessoa recém batizada perceber o significado, valor e alcance dos ritos realizados. O rito, ao envolver a pessoa por inteiro, marca mais profundamente do que uma simples instrução e interioriza o que foi aprendido e proclamado, realçando a dimensão de compromisso.
1.5- A INICIAÇÃO COMO DADO ANTROPOLÓGICO
Ao longo do tempo, fomos perdendo a ligação com o real processo de iniciação. As culturas modernas não tem a mesma consciência da necessidade antropológica dos processos de iniciação que havia no passado e que há ainda em culturas tribais.
“Iniciação provém do Latim “in-ire”, ou seja, ir bem para dentro. No Dicionário Aurélio afirma que sua definição é assim: “Processo ou série de processos de natureza ritual, que efetivam e marcam a promoção de indivíduos a novas posições sociais. Como, por exemplo, sua passagem as diferentes fases do ciclo de vida e, em particular sua incorporação a comunidade dos adultos; ou acesso a determinadas funções religiosas ou políticas, ou o acesso a determinadas funções religiosas ou políticas”; ou ainda: “preparação pela qual se inicia alguém nos mistérios de alguma religião ou doutrina e a cerimônia dela decorrente”.
Na atualidade os jovens conhecem alguns processos de iniciação quando começam a fazer parte de um grupo ou quando entram para uma universidade. Festas de formatura e de quinze anos são ritos de passagem. O casamento também: mesmo quem não tem religião sente certa necessidade de ritualizar essa mudança de vida.Comunidades afro-indígenas e de outros continentes estão familiarizadas com ritos de passagem.
Uma grande especialista na área da iniciação a define como “conjunto de ritos e ensinamentos orais, visando realizar uma transformação do estatuto religioso e social do iniciado. Do ponto de vista filosófico, a iniciação equivale a uma mutação ontológica existencial. Ao final do período de provas, o neófito goza de uma existência totalmente diferente da que possuía antes: transforma-se noutra pessoa”.
1.6 - REVALORIZAR HOJE ESSE CAMINHO
Numa cultura moderna quase que pós- cristã a Igreja se vê diante da necessidade de uma real iniciação para formar cristãos que realmente assumam o projeto de Reino. Os Estudos da CNBB”com adultos” afirma: “para entender melhor a tarefa da catequese é importante aprofundar o conceito de iniciação.A sociedade moderna e pós moderna perdeu, quase por completo, o elemento cultural da iniciação radicado em outras culturas.
Daí a necessidade de formas de catequese que estejam verdadeiramente a serviço da iniciação cristã, na complexidade de suas exigências, como bem afirma o DGC: sente-se hoje uma necessidade urgente de revisão profunda da nossa prática eclesial, para restabelecer, na sua função primordial, a iniciação cristã.
Ou educamos na fé, colocando as pessoas realmente em contato com Jesus Cristo e convidando-as para seu seguimento, ou não cumpriremos nossa missão evangelizadora.
1.7- A IMPORTANCIA E O LUGAR DOS SACRAMENTOS.
Ao traduzir o termo mistério do grego para o latim usou-se a palavra sacramento que na Bíblia e no inicio do cristianismo , tinha um sentido bem amplo: eram as ações salvadoras de Deus.Sendo assim tudo que a Igreja realiza é mistério.Resumindo as perspectivas do Vaticano II, os estudiosos afirmam que no mistério(nos sacramentos) a liturgia torna presente para cada crente e para todos os crentes, de qualquer época.
A liturgia da Igreja pressupõe, integra e santifica elementos da criação e da cultura, da graça, da nova criação em Jesus Cristo. Diante disso, uma parte essencial da iniciação cristã, coroamento do processo iniciático é justamente a catequese mistagógica.(início aos sacramentos).
2.8-MAS IDENTIFICAMOS UM PROBLEMA NESSE PROCESSO.
É muito comum criticar um certo tipo de catequese, considerada sacramentalista. Com isso se quer falar do costume de fazer do sacramento uma espécie de “festa de formatura”, fim do caminho, despedida da Igreja.O sacramento vira uma espécie de costume, uma devoção a mais, sem consideração do conjunto do compromisso de fé que ele realiza e exige.
E ai temos um desafio. Precisamos afirmar que todo verdadeiro processo catequético desemboca na celebração dos sacramentos, como momento culminante da participação no mistério de Cristo. Sendo assim a catequese deve levar ao sacramento. Não tem sentido fazer de outro jeito. Um bom processo de iniciação pode dar ao sacramento o lugar que lhe cabe, que não faça dele um ponto de chegada sem prosseguimento de caminho.

1.9- UMA INICIAÇÃO QUE LEVE A UMA REAL PARTICIPAÇÃO
No mundo moderno vivemos uma cultura em geral uma grande demanda de transcendência, de uma certa religiosidade difusa(espalhada,redundante ), que busca contato meio as cegas com o sagrado no torvelinho( redemoinho )das angustias da vida.é claro que temos que considerar esse dado, mas a iniciação cristã não é uma estratégia que busca se aproveitar das exigências desse tipo de “mercado religioso”.
A restauração do catecumenato, solicitada pela Igreja, quer retomar a dimensão mística, celebrativa, da catequese, considerando que um dos aspectos essenciais da educação da fé é levar as pessoas a uma autentica experiência cristã.
Partindo do pressuposto de que precisamos urgentemente restaurar o catecumenato com as famílias católicas de nossas comunidades, pode-se afirmar que:A iniciação cristã é o processo de preparação, compreensão vital e de acolhimento dos grandes segredos( mistérios )da vida nova revelada em Jesus Cristo. Um cristão convertido vai, então, aprofundando a acolhida do amor do Pai, do Filho e do Espírito Santo e se colocando na dinâmica do amor serviçal aos irmãos.
1.10- NATUREZA DA INICIAÇÃO CRISTÃ
É sabido que a natureza da iniciação cristã apontam algumas características. Alem de aprofundar seu sentido mostram a diferença e o distanciamento com relação aos ritos mistéricos pagãos.
Deus quis se revelar a si mesmo e manifestar o mistério de sua vontade: por Cristo, a palavra feito carne e no Espírito Santo, todos podemos chegar ao Pai e participar de sua natureza divina.
Sendo assim podemos chegar ao objetivo final da iniciação cristã, seu contudo e sobretudo sua origem:Ela é a obra do amor de Deus. A iniciação cristã é graça benevolente e transformadora, que nos precede e nos cumula com os dons divinos em Cristo.
Esta obra do amor de Deus se realiza na Igreja e pela mediação da Igreja.Como corpo de Cristo, sinal e germe do Reino, é a Igreja que anuncia a boa nova, acolhe e acompanha os que querem realizar um caminho de fé.
A ação dos catequistas junto aos catecúmenos, mesmo que se enriqueça com os dons pessoais é palavra e ação em nome da igreja. Por fim, a iniciação cristã é a participação humana no diálogo da salvação. Somos convidados a ter uma relação filial com Deus.O iniciado, transformado e introduzido na nova condição de vida, morre ao pecado e começa uma nova existência.
1.11- UMA VISÃO DE CONJUNTO DA VIDA CRISTÃ.
Propomos uma iniciação bem abrangente, que contemple as várias dimensões de vida cristã.É bom perceber que isso nos remete a um equilíbrio. A iniciação não vai ser uma catequese completa; mas deve apresentar um panorama sem deformações, para que o nosso trabalho enquanto educador da fé não morra junto com o que fizemos.
REFERENCIAS
Coleção: Estudos da CNBB
Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil/Iniciação a Vida Cristã: Um processo de Inspiração Catecumenal. Brasília, Edições CNBB.2009

Desejamos bons encontros com seus catequistas, inovados e ungidos pelo Espírito Santo de Deus.

ALELUIA, ALELUIA. O Príncipe da PAZ, Jesus Cristo Ressuscitou.